A controvérsia que se estabeleceu inicialmente no que diz respeito a se a fotografia teria ou não um caráter artístico, se referia à objetividade da linguagem fotográfica, à igualdade entre signo e objeto. Bazin trata desta objetividade:
"A originalidade da fotografia em relação à pintura reside, pois, na sua objetividade essencial, tanto assim que se chama, precisamente, "objetiva" ao conjunto de lentes que constituem o olho fotográfico substituto do olho humano. Pela primeira vez, entre o objeto inicial e a sua representação, apenas se interpõe um outro objeto. Pela primeira vez também, uma imagem do mundo exterior forma-se automaticamente, sem a intervenção criadora do homem, segundo um determinismo rigoroso. A personalidade do fotógrafo só entra em jogo pela escolha, a orientação, a pedagogia do fenómeno e por muito visível que esteja na obra final, não figura nela na mesma qualidade que a do pintor"
André Bazin, O que é o cinema, Lisboa, livros Horizonte, 1992.
Para Benjamin, entretanto, a pergunta de se a fotografia é ou não uma arte não faz sentido por si mesma, pois seu surgimento muda o próprio conceito de arte.
Em vez de adotar julgamentos com critérios que nortearam a idéia de Estética definida como “ciência do belo”, Benjamin resgata o sentido originário de Estética - do grego aisthesis - definindo-a como uma “teoria da percepção”. E assim, é enquanto transformadora da nossa percepção do mundo e de nós mesmos, que a fotografia modifica o próprio conceito de arte.
“Muito se escreveu, no passado, de modo tão sutil como estéril, sobre a questão de saber se a fotografia era ou não uma arte, sem que se colocasse sequer a questão prévia de saber se a invenção da fotografia não havia alterado a própria natureza da arte"
Benjamin segue nesta abordagem buscando de que forma a natureza da arte teria sido alterada pela fotografia: a reprodução fotográfica radicaliza a possibilidade de que um fenómeno único possa gerar muitos outros semelhantes, pois é inerente à fotografia ser produzida para ser reproduzida.
"Pela primeira vez no processo de reprodução da imagem, a mão foi liberada das responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabiam unicamente ao olho. Como o olho apreende mais depressa do que a mão desenha, o processo de reprodução das imagens experimentou tal aceleração que começou a situar-se no mesmo nível que a palavra oral"Se é assim, se não faz sentido questionar a autenticidade da cópia, ocorre a perda irremediável dessa aura, que só a presença aqui e agora, irreprodutível garante.
“Com a fotografia, o valor de culto começa a recuar, em todas as frentes, diante do valor de exposição”
Transportável e reprodutível, a fotografia perde a autenticidade que era característica da pintura e, junto ao cinema, torna-se protagonista de uma ruptura drástica originada pela reprodução técnica serial das imagens, reprodução esta que provoca um profundo abalo do reproduzido e da tradição, do teológico e sagrado da cultura secular, inaugurando novas formas de recepção e percepção da obra de arte.
Benjamin exemplifica com Atget a desritualização da fotografia, uma vez que este fotografava espaços vazios que faziam lembrar cenas de crime que têm de ser reconstruídas na e pela nossa memória.
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