quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Da imitação às técnicas de reprodução em massa da obra de arte

"Em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens. Essa imitação era praticada por discípulos, em seus exercícios, pelos mestres, para a difusão das obras, e finalmente por terceiros, meramente interessados no lucro. Em contraste, a reprodução técnica da obra de arte representa um processo novo, que se vem desenvolvendo na história intermitentemente, através de saltos separados por longos intervalos, mas com intensidade crescente."

O período pré-industrial

O período pré-industrial caracteriza-se pela utilização de ferramentas manuais e técnicas de produção artísticas artesanais:
  • Pinturas rupestres

    De diferentes formas os homens sempre tentaram deixar suas marcas pelas terras onde viveram. Além das marcas produzidas pelo decalque de suas mãos os homens da pré-história também desenhavam, com muita habilidade, as coisas que os cercavam. O registro visual torna-se mais complexo no final da pré-história e se torna uma das primeiras formas de narrativa registrada.

  • Antiguidade Clássica (Grécia e Roma ).

    "Os gregos só conheciam dois processos técnicos para a reprodução de obras de arte: o molde e a cunhagem. As moedas e terracotas eram as únicas obras de arte por eles fabricadas em massa. Todas as demais eram unica e tecnicamente irreprodutíveis."
  • Idade Média

    Os escritórios medievais de reprodução de textos podem ser considerados o começo de uma atividade de reprodução gráfica seriada. Neles grupos de monges
    copistas trabalhavam para a reprodução manual de vários textos; ao longo de quase toda Idade Média nos monastérios, esses grupos de homens fabricaram artesanalmente livros manuscritos feitos de pergaminho, nos quais desenhavam vinhetas e enchiam de ornatos e ilustrações os textos, sagrados ou profanos, tanto de autores clássicos, como dos consagrados daquela época.


  • xilogravura - gravura em madeira (por volta de 1400)
"o desenho tornou-se pela primeira vez tecnicamente reprodutível, muito antes que a imprensa prestasse o mesmo serviço para a palavra escrita."

Os primeiros livros impressos por meio de xilografia apareceram no século XV.
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    Xilogravuras do século XVI ilustrando a produção da xilogravura. No primeiro: ele esboça a gravura. Segundo: ele usa um buril para cavar o bloco de madeira que receberá a tinta.


    Matriz de xilogravura e instrumentos de corte da madeira
  • imprensa (por volta de 1450)
Por volta de 1040 o alquimista chinês Pi Cheng usou de argila cozida para produzir os primeiros tipos móveis, os quais podiam ser reutilizados após a impressão, porque as letras eram entalhadas separadamente. O conhecimento dos tipos móveis chegou à Europa muitos anos depois e foi aperfeiçoado pelo alemão Johannes G. Gutenherg. Acredita-se que foi por volta de 1450 que Johannes Gensfleisch von Guttenberg inventou os tipos móveis de metal, que permitiriam a reprodução técnica da escrita.

Junto com os tipos móveis, Guttenberg adaptou uma prensa para a produção seriada de impressos.

Realizou uma proeza fantástica para época: imprimiu 200 exemplares da Bíblia.
A prensa, além de muito mais flexível que a xilogravura, produzia impressos de melhor qualidade, permitindo uma produção em massa das obras e diminuição do custo, facilitando o acesso à informação.


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  • calcografia ou gravura em metal - buril, ponta seca e águaforte












    Surgiu nos ateliês de ourivesaria e de armaduras , no século XV , onde era usual imprimir-se os desenhos das jóias e brasões em papel para melhor visualização das imagens.
    Se dá através de vários processos, sendo o mais antigo deles a gravura diretamente no metal feita com um instrumento de aço chamado buril.
    • buril e ponta seca : a gravação em buril e /ou ponta seca sobre metal é o processo mais direto de gravação . O buril é um instrumento pontiagudo com diferentes pontas que corta a chapa de cobre abrindo linhas profundas e delgadas . A ponta seca é uma ponta metálica afiada que abre o metal , traçando uma linha fina e cujas rebarbas dão uma impressão aveludada .
    • água-forte: a chapa é protegida com um verniz ( benzina, cera, betume etc), sobre o qual desenha-se livremente com uma ponta de metal. Em seguida, submerge-se a chapa em um banho ácido que corroi as linhas expostas. A profundidade depende da concentração do ácido e do tempo de atuação. Após o banho, limpa-se a chapa com um solvente e se cobre com tinta negra e espessa que penetra nas linhas gravadas. Limpa-se , então , o excesso de tinta da superfície, deixando somente as linhas.
    Há outros gêneros da gravura feita em metal que fazem parte da calcografia, como água-tinta, maneira negra e o verniz mole.
  • litografia (gravura em pedra) - 1760
    Em 1760 Alois Senefelder inventa a litografia: segundo grande processo de impressão. Abandonando-se a chapa de cobre e substituindo-a por uma matriz de pedra calcárea, o desenho passou a ser feito através do acúmulo de gordura sobre a superfície da matriz, e não através de fendas e sulcos na matriz.
    A delicadeza dos detalhes permitiu que a litografia rapidamente ganhasse mercado pela qualidade da imagem impressa.

    "Com a litografia, a técnica de reprodução atinge uma etapa essencialmente nova. Esse procedimento muito mais preciso, que distingue a transcrição do desenho numa pedra de sua incisão sobre um bloco de madeira ou uma prancha de cobre, permitiu às artes gráficas pela primeira vez colocar no mercado suas produções não somente em massa, como já acontecia antes, mas também sob a forma de criações sempre novas. Dessa forma, as artes gráficas adquiriram os meios de ilustrar a vida cotidiana. Graças à litografia, elas começaram a situar-se no mesmo nível que a imprensa. Mas a litografia ainda estava em seus primórdios, quando foi ultrapassada pela fotografia."

Período Industrial

O período industrial se caracteriza por mudanças drásticas na reprodução das obras de arte. Os novos meios de comunicação que surgiram no século XIX, tais como fotografia, reprodução do som, cinema, alteraram drasticamente o panorama da nossa experiência estética. Uma das características mais importantes do pensamento de Walter Benjamin é a sua atenção a estes acontecimentos:
"(...) a reprodução técnica atingiu tal padrão de qualidade que ela não somente podia transformar em seus objetos a totalidade das obras de arte tradicionais, submetendo-as a transformações profundas, como conquistar para si um lugar próprio entre os procedimentos artísticos."
  • Fotografia

1826: "a primeira fotografia permanente do mundo", de Joseph Nicéphore Niépce, feita numa placa de estanho coberta com betume, produzida com uma câmera escura, sendo exigidas cerca de oito horas de exposição à luz solar.

  • a reprodução técnica do som:

"A catedral abandona seu lugar para instalar-se no estúdio de um amador e o coro, executado em uma sala ou ao ar livre, pode ser ouvido em um quarto."



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